Foto: Gilson Ribeiro |
Por trás de várias camadas de repintura, traços leves, elegantes
e com motivos florais foram revelados, durante o trabalho de restauro
Em processo de restauro de seus bens integrados desde dezembro de 2014, a Igreja Matriz de Santo Antônio, em Itatiaia (Ouro Branco/MG), tem se revelado aos olhos dos profissionais. Sob muitas camadas de tinta, a pintura original tem surgido e enchido de alegria a comunidade, que aguarda, ansiosa, a finalização das obras. O responsável pelo restauro, Gilson Ribeiro, conta que elementos artísticos da capela primitiva, construída em pau-a-pique na primeira metade do século XVIII, podem ter sido reaproveitados na montagem dos retábulos colaterais da nova nave, da segunda metade daquele século. Assim, pinturas do primeiro templo surgiram em locais diferentes, no verso de tábuas ou como apoio da estrutura do altar.
“No retábulo do Senhor dos Passos encontramos arabescos em tom bege sobre vermelho e verde nas colunas. Esse tratamento é identificado como imitação de embutidos, técnica que na Europa é realizada com mármore”, explica Gilson Ribeiro. Ele conta que, ao desmontar o retábulo lateral de Sant’Ana e retirar o excesso de sujidades acumuladas, duas tábuas apresentaram pinturas que, provavelmente, faziam parte do conjunto decorativo da capela primitiva. “Encontramos, ainda, na banqueta do retábulo-mor, três fragmentos com pintura. Para nossa surpresa, quando juntamos as peças, elas formaram uma figura humana”, completa.
Wilton Fernandes, coordenador de projetos da Associação Sócio Cultural Os Bem-Te-Vis, responsável pelo projeto de restauro, salienta que as descobertas têm valor incalculável. “É uma alegria poder participar da preservação de um monumento de suma importância para a comunidade local e até mesmo nacional. Está sendo uma emoção enorme a cada notícia das descobertas das pinturas escondidas embaixo de várias camadas de tinta”, enfatiza. A comunidade acompanha o trabalho e está ansiosa para ver a igreja voltar ao seu antigo esplendor. Quem cresceu em Itatiaia e lembra da Matriz antes de sofrer com as intempéries por ter ficado, por três anos, sem telhado, está ansioso para que a primeira missa, após a finalização do restauro, aconteça. Wilton pondera que as gerações futuras estão sendo contempladas no processo de restauro. A equipe de Gilson Ribeiro já realizou duas oficinas de educação patrimonial com as crianças da comunidade, para ensinar os processos de douramento e as técnicas de restauro. “O restauro é um projeto que visa, também, as gerações futuras. Elas vão se responsabilizar pelo bem, mais ainda se aprenderem a amar e a cuidar do patrimônio”, completa.
Foto: Leo Homssi |
História
Em 1994, a Matriz de Santo Antônio de Itatiaia sofreu um furto e teve parte de seu acervo de esculturas furtados. Após esse fato, a comunidade decidiu tomar a frente no processo de proteção dos bens da igreja. Em 2008, a Associação Sócio Cultural Os Bem-Te-Vis executou o projeto Luminotécnico da Matriz e, entre as ações realizadas, foi instalado um sistema de segurança e também de proteção contra incêndios. A proteção ao patrimônio da comunidade é uma das frentes de atuação dos Bem-Te-Vis.
Matriz de Santo Antônio
A Matriz de Itatiaia foi construída na primeira metade do século XVIII por iniciativa das irmandades do Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e São Benedito. Apresenta duas etapas distintas de construção. A parte dos fundos do templo (capela-mor e corredores laterais) foi executada em estrutura de madeira com vedação de pau-a-pique e aparenta ser a primitiva capela original. A ela foram acrescidas, posteriormente, a atual nave, as torres e o frontão, em pedra. (Fonte: Iphan).
Durante o início da década de 1980, a matriz ficou exposta às intempéries climáticas, que acabaram por danificar os altares laterais e colaterais da nave e o forro, que foi perdido. O trabalho de restauro dos bens integrados da Matriz de Santo Antônio é realizado pela Associação Sócio Cultural Os Bem-Te-Vis, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e com o apoio Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo Federal. O projeto prevê a recuperação do interior da construção, contemplando elementos artísticos como retábulos, púlpito, arco-cruzeiro, balaustrada da nave e pia batismal. Também estão contempladas a reforma do assoalho, a instalação de câmeras de segurança, a laminação do telhado e a restauração do acervo de imaginárias.
Foto: Gilson Ribeiro |